Não seja um idiota falando dos gastos federais

            Toda vez que alguém fala sobre reduzir toda a classe política e seus asseclas, e sobre o gasto que a política produz, sempre é uma abordagem rasa sobre os reais problemas do Brasil. Cabe ressaltar que encontrar os valores projetados para qualquer ano é difícil, mas o valores não mudam muito entre as diversas reportagens disponíveis. 

            Quantos bilhões são necessários para uma real economia de dinheiro público? e em que áreas os impostos são gastos?


O orçamento da união está prevendo gastos de R$ 5,5 trilhões de reais. Sim, cinco mil e quinhentos bilhões

Orçamento simplificado para 2024

           Analisando o gráfico acima, temos as primeira considerações importantes: 

1) O PIB projetado do Brasil para 2024 é de R$ 10,6 Trilhões.

2) Sobre a dívida nacional, temos aproximado R$ 1,7 trilhões em rolagem da dívida (contrair novos empréstimos via tesouro Tesouro Direto).

3) R$ 300 bilhões em amortização (pagamento) e R$ 400 bilhões em juros da dívida (remuneração de quem investiu no Tesouro Direto e afins). 

 

Portanto, somando tudo temos R$ 2,4 trilhões envolvidos com a dívida pública. Isso representa 46,6 % de toda arrecadação.

 

E para que lugar vai o resto do dinheiro?

  R$ 2,2 trilhões para as despesas primárias, 90% dessas, despesas obrigatórias. Mas para onde vai esse dinheiro especificamente?

     R$ 935 bilhões para a previdência social - aposentadorias do INSS. Representa 16,7% da arrecadação.

    R$ 507 bilhões em obrigações constitucionais, que são repasses aos estados, DF e municípios. Representa 9,21% da arrecadação.

   R$ 407 bilhões para gastos com pessoal (servidores federais). Representa 7,4 % da arrecadação.

    R$ 210 bilhões para gastos com investimentos (despesas não obrigatórias e discricionárias). Representa 3,81% da arrecadação.

   R$ 168 bilhões para gastos com o Bolsa Família . Representa 3,05% da arrecadação.

    R$ 152 bilhões para gastos com o Novo PAC. Representa 2,87% da arrecadação.

   R$ 100 bilhões para gastos com o Benefício de Prestação Continuada (Se tu não sabes o que é, é interessante pesquisar). Representa 1,8 % da arrecadação.

Há ainda os gastos constitucionais obrigatórios de R$ 218,5 bilhões para a saúde (SUS) e R$ 147,3 bilhões para a Educação.

Esses são os maiores montantes, para a descrição mais detalhada, porém de mas de mais difícil interpretação, sugiro os links Orçamento pelo site da Câmara e o do site PODER 360 Entenda os gastos do Orçamento em 2024

E as emendas parlamentares e os gastos com os poderes?

Para a manutenção do Poder Judiciário, são gastos R$ 56,1 bilhões (1,02% da arrecadação) e para a manutenção do Poder Legislativo, são gastos R$ 16,3 bilhões (0,29% da arrecadação). Isso não inclui as esferas estaduais do judiciário e as estaduais e municipais do legislativo. Cada estado e município também possui seu orçamento. 

E as emendas parlamentares, antigo orçamento secreto?


São 
R$ 37,6 bilhões em emendas parlamentares. Representa 0,68% da arrecadação.



E quem são os credores da dívida pública?

Aí estão os donos da dívida pública que consumirão R$ 2,4 trilhões de reais em 2024. 

    Pequena conclusão:

Quando se pergunta para que lugar vai o dinheiro público, a maioria dos brasileiros não se dá ao trabalho de pesquisar. Como complemento, surgem saídas muito discutíveis. O governo não ajuda na transparência, o que torna ainda mais complicado um desinteressado pesquisar antes de expressar sua opinião vulgar.

Alguns partidos de direita colocam a culpa no funcionalismo e vários espectros políticos nos gastos com a manutenção dos políticos. Os de esquerda mais radical querem deixar de pagar a dívida - calote, claro, sem mencionar o malefícios desse caminho. 

Se você sabe que o PIB do Brasil beira os R$ 10 trilhões de reais, a arrecadação os R$ 5,5 trilhões e quase metade vai para dívida nacional, e que R$ 10 ou 20 bilhões são troco de pinga nessa ciranda, você estudou um pouco o assunto e pode não passar vergonha ao falar do assunto. Do contrário, o silêncio e o estudo são as opções corretas antes de propor soluções. 












 





Culpados da preguiça?

 Algumas vezes me pego pensando o quanto de esforço ou de trabalho é necessário para ter o resultado satisfatório no trabalho. Trabalho e serviço é uma terminologia comum no livro Minha vida, minha obra (1922), livro autobiográfico de Henry Ford que acabei de ler. 

Capa do livro autobiográfico de Henry Ford
 de 1922.


O homem consolidou a produção em massa - logo o consumo em massa também tem sua participação nos tempos atuais. Claro, livros autobiográficos não servem de parâmetro para a realidade, visto que os escritos podem deixar de lado inconvenientes realidades. Além disso, Ford teve sucesso inegável e o carro para a classe média é uma realidade desde os anos 20 nos EUA e hoje em dia no mundo todo, muito fruto de seu pensamento e visão de sociedade. 

No seu livro vemos bastante sobre a capacidade de cortar os custos de produção para deixar seu automóvel do momento, Ford T, mais barato, usando métodos de diminuição do custo de produção aliados a alta remuneração dos trabalhadores. Os funcionários de uma indústria automotiva devem ser capazes de comprar os produtos que os mesmos manufaturam. 

Tendo como dúvida - muito mais como uma solução - sobre o caminho que devemos seguir, não seria a produção industrial local e interligada eficientemente uma das partes das soluções para os altos preços dos produtos no Brasil? e mais difícil ainda, como seria manter uma produção de alto nível e alta produtividade mantendo os direitos trabalhistas, marco civilizatório na minha própria opinião?

São questões que cada brasileiro, em sua infinita incapacidade de votar em um legislador eficiente, seguirá remando contra a corrente, independente de sua direção. Provavelmente a população é vítima da própria ignorância e fará o máximo para não sair dela.  

Nada Acontece Por Acaso (na história)

 

Hoje, no conturbado momento político - com polarização agressiva -, é de suma importância que não pensemos apenas nos próximos meses ou anos, e sim pensemos nos acontecimentos de forma ampla. Para tal, trago a luz dois jargões que eventualmente são repetidos: "Um povo que não conhece sua História está fadado a repeti-la"(Edmund Burke); e "Para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve" (Lewis Carroll). Pois o brasileiro ou repete o erro, ou está planejando repeti-lo em alguns anos.  

Num primeiro momento, é necessário destacar a conexão de alguns acontecimentos históricos. Como exemplo de causa e consequência, mas sem entrar no mérito do assunto, a Guerra Franco-Prussiana em 1870-71 teve como desfecho uma humilhante derrota francesa, com a anexação alemã de territórios franceses e a Proclamação do Império da Alemanha no Salão dos Espelhos do Palácio de Versailles. Após isso, a 1ª Guerra Mundial teve como uma dentre suas várias causas o revanchismo francês pela derrota e a perda de territórios.


Proclamação do Império Alemão no Salão dos Espelhos em Versailles.


No decorrer da guerra, o Império Russo e suas instabilidades internas, potencializados pela impopular guerra, fome, mortes, entre outros, acabou por irromper na Revolução Russa. Cabe destaque o interesse alemão na saída da Rússia da guerra, a fim de terminar com a guerra de duas frentes. Para tal, o Império Alemão fretou um trem fechado que levou Vladimir Lenin de seu exílio na Suíça até o norte da Alemanha, viagem que teria como destino final São Petersburgo. Em 1918 os Bolcheviques de Lenin assinariam o tratado de Brest-Litovsk, com a saída da Rússia da guerra e a criação dos estados da Polônia, Letônia, Lituânia e Estônia.

O Império Alemão, após a entrada dos Estados Unidos na guerra, ofensivas fracassadas e agitações internas, acabou por render-se (ainda que seus exércitos estivessem em solo estrangeiro). O tratado de paz, conhecido como Tratado de Versailles foi assinado no Salão dos Espelhos do referido palácio. O tratado culpou a Alemanha por toda a guerra e impôs pesadas reparações de guerra.


Tratado de Versailles, assinado no Salão dos Espelhos do palácio. Pôs fim oficial a 1ª Guerra Mundial



Na esteira dos acontecimentos, em 1933 o Partido Nazista, sob a tutela de Adolf Hitler, mobiliza uma Alemanha humilhada e cambaleante pelos efeitos das reparações de guerra, pela grande depressão, pelo mito da facada nas costas, entre vários outros. Assim, dá-se início ao rearmamento alemão que teria como desfecho a 2ª Guerra Mundial.

A Werhmatch¹ acabaria por dominar toda a Europa continental. A França, derrotada em 45 dias, assinaria um armistício no mesmo vagão no qual a Alemanha também assinara em 1918, porém agora na condição triunfante. O Reino Unido lutaria sozinho até a invasão alemã da União Soviética na Operação Barbarossa² em junho de 1941.

Ao findar da guerra, o triunfo dos aliados rapidamente deu início à Guerra Fria. Estados Unidos e União Soviética foram antagonistas na corrida espacial, travaram guerras por procuração no Coreia, Vietnã, Afeganistão, e se envolveram em golpes de estado no Leste Europeu, na Revolução Cubana, apoiariam ditaduras na América Latina, incluindo o Brasil. Na Ásia, a URSS apoiaria Mao Tse Tung em sua revolta comunista, que resultou na atual República Popular da China. São inúmeros os grandes eventos nessa cadeia de acontecimentos, que ainda não terminaram e moldam nosso mundo atual.


As duas superpotências da Guerra Fria: EUA x URSS


A URSS, por suas crises internas e a incapacidade de competir com os EUA, desmoronaria em 1991, dando origem a mais de uma dezena de estados. Um deles, a Ucrânia, está no centro da atual "Operação Militar Especial" russa. Sobre esse último acontecimento, de resultados imprevisíveis, já é causa de grandes agitações econômicas e políticas contemporâneas.

O que quero destacar comentando esses acontecimentos é que tudo está interligado, ou seja, os grandes acontecimentos não são isolados dos acontecimentos anteriores. Assim como o conhecimento levou o velho continente à guerra, também o manteve em paz desde 1945. Foi necessário séculos de guerras até que o conhecimento tornasse a Europa o bom lugar de se morar que é hoje.

A Revolução Francesa, com seus ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, pôs fim ao absolutismo e resultou no despotismo de Napoleão Bonaparte, embora aqueles ideais sejam a base da democracia moderna. As guerras napoleônicas conquistariam toda a Europa continental, e após o fracasso francês na Batalha de Trafalgar, que garantiu a soberania inglesa sobre todos os mares, Napoleão impôs o bloqueio continental, proibindo qualquer país europeu de negociar com a Inglaterra, visando estrangulá-la economicamente.

O Reino de Portugal e Algarves, que possuía uma aliança diplomática com a Inglaterra desde 1386 — que dura até os dias de hoje — ficou encurralado: Dependia do comércio com a Inglaterra e não possuía forças terrestres capazes de resistir ao exército francês.

O episódio mostra que talvez tenhamos herdado parte do "jeitinho brasileiro" dos portugueses. Com a pressão inglesa pela manutenção do comércio e seguidos ultimatos franceses, o príncipe regente D João VI fez malabarismos diplomáticos: dizia para Inglaterra que iria continuar comerciando e à França que aderiria ao bloqueio continental. Chegou até mesmo a sugerir que declararia guerra à Inglaterra, Porém, a grande fonte da riqueza portuguesa era a colônia brasileira, motivo pelo qual decidiria por deixar Portugal desprotegido e fugir para o Brasil.

A decisão de embarcar para o Brasil foi inédita para o momento: a metrópole transferindo sua capital para a colônia. A rainha D Maria I (intitulada "a Louca") teria dito para o cocheiro de sua carruagem no trajeto entre o palácio e o porto "vá mais devagar, vão pensar que estamos fugindo" enquanto o povo perecia desesperado nas ruas diante do iminente ataque francês. É uma passagem cômica que externaliza alguns sentimentos que temos hoje.

Quando as forças do general Junot chegaram em Lisboa, os galeões portugueses ainda eram visíveis no horizonte. D João VI deixara o general a ver navios. É essa uma das possíveis origens desse ditado. Posteriormente Napoleão diria que D João VI "foi o único que me enganou". Com a vinda da família real para o Brasil, teria início os eventos que levariam a nossa independência.


Quando o general Junot chegou a Lisboa, ainda era possível ver os navios com a família real e a corte portuguesa no horizonte, em direção ao Brasil. Na imagem, a nau capitânia Nossa Senhora da Conceição, renomeada para Príncipe Real em 1794.


Conforme os leitores podem observar por essas duas linhas do tempo, acontecimentos como a revolução francesa são algumas das causas da independência do Brasil, embora seja causa indireta, sem ela não teria como ter ocorrido (pelo menos na mesma época ou circunstâncias). Assim como as decisões que tomamos hoje podem ter resultados inesperados no futuro.


Glossário e fontes utilizadas

¹Werhmatch: Eram as forças armadas alemãs, com tradução literal para "Força de Defesa". Compreendia o Heer (exército), Kriegsmarine (Marinha de Guerra), Luftwaffe (força aérea).

GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil.;

WIKIPÉDIA. https://pt.wikipedia.org/

HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: O Breve Século XX (1914-1991).



SOBRE MEU TEMPO NO EXÉRCITO

 

Certamente ser SARGENTO do exército é um desejo de milhares de jovens pelo Brasil afora. E certamente deixá-lo de sê-lo é o maior dos que já conseguiram o feito. Talvez o que mais afetou o exército desde os anos 2010’s, quando se trata de sargentos, foi a opinião. Agora todo mundo têm uma. E talvez o que mais afetou os agora capazes de críticas foi saber que um advogado só mais medo causa num comandante qualquer é quando o causídico leva o caso pra justiça. Porque se for, vai ganhar.

Que a vida militar não é fácil pra ninguém, todo mundo sabe. Que a carreira exige sacrifícios, depois de entrar todos descobrem. Que vai ser pisoteado, esnobado e tratado como inferior pelos oficiais, alguns vão aguentar. Ou se submetem. Quem não aceita isso, sai ou vive infeliz. E também tem quem vire a chave depois que sai pelo portão das armas (após o toque, claro).

Somente os Sargentos do Exército formados na ESA podem adquirir a faca. Vem com nome de guerra e numeração. Na ponta do cabo, o símbolo que representa o Pico do Gavião, localizado no campo de instrução que fazemos nossos acampamentos. 

Os revolucionários, como são chamados os que não se ajoelham, saem. Eu saí, e não hesitei em assinar o papel que efetivaria minha saída. É costume no meio armado, incluído todos que são capazes de exercer poder coercitivo e detêm o monopólio sobre a vida alheia desprezar os direito humanos. E não o desprezam por faticamente concordarem, mas sim por não possuí-los. No tratamento do exército todos são culpados até que se considere o contrário.

Se tu não és respeitado, não descobre o valor do respeito. Se tu não vives sobre a égide da Constituição de 88, vive sobre a de outra. Pode ser a polaca, pode ser a da “contrarrevolução democrática”. Os militares de hoje em dia não são detentores de seus direitos tutelados pela constituição em vigor. A caserna é um lugar de submissão, desrespeito e todo o tipo de sujeira social aceitável da manhã de segunda-feira até a sexta ao meio dia.

Já vi, e com frequência digna de pontualidade militar, bons soldados de Caxias serem humilhados, militares serem punidos mediante injustiça, e principalmente, e o maior deleite para todo comandante: a punição coletiva. E umas das verdades sobre isso é que ela funciona. Porém, desagua na evasão de talentos. E o pior, num sentido amplo, ninguém mais é responsável por nada. É coletivo.  

Essa punição coletiva é um caldeirão no qual misturam todos fardados e os deixam queimando pelos erros dos outros. Não estou falando de espírito de equipe, caro leitor. Falo de algo que não deve estar na Constituição mencionada dois parágrafos acima. Existe uma justificativa, dirão os augustos generais e comandantes: a guerra exige. De fato ela deve exigir muito do soldado. Provavelmente muito mais treinamento e – provavelmente - não envolve um mictório onde a mira é a cara do subordinado.

Sargentômetro. Marca a contagem regressiva para a formatura. Tenho boas recordações ao rever essa foto. Também seria bom uma contagem regressiva para sair do Exército após formado.


Talvez o único conforto que este amante da defesa de nossa terra natal tenha é o que quando a guerra chegar, e um dia ela irá chegar, a realidade irá se impor. Como em outras guerras, os muitos incompetentes morrerão, alguns até levarão seus batalhões e companhias para a morte junto. E na fila para comandar estarão os sargentos mais resilientes que aguentaram todos essas desgraças.

Não seja um idiota falando dos gastos federais

               Toda vez que alguém fala sobre reduzir toda a classe política e seus asseclas, e sobre o gasto que a política produz, sempre ...